Os três carros de bombeiros, inclusive uma escada magirus, estacionados em frente ao apart-hotel destinado a idosos não era um bom sinal. Uma pequena multidão olhava para cima e para os lados. Na pizzaria que ocupa todo o primeiro andar, os empregados conversavam entre si, do lado de fora. O prédio todo às escuras, assustava…
— Oi amigo, o que está acontecendo?
— Cheguei agora, mas parece ser um incêndio.
— Pois é, mas incêndio sem fumaça é estranho, né?
Uma senhora ao lado, não resistiu:
— Ih, moço, parece que foi na cozinha da pizzaria. Olha só a cara de desânimo dos garçons!
— Será?
— Não, de jeito algum, os bombeiros entraram pela portaria do prédio, ao lado e cortaram a força do prédio. O incêndio deve ser lá em cima.
— Alguém notou que não veio nenhuma ambulância?
— Mas é muita irresponsabilidade mesmo! E como é que vão levar os velhinhos feridos para os hospital?
— Espera aí, minha senhora, tem gente ferida? Que horror!
— Bom, eu não sei se tem, mas nesse hotel só mora idoso, todo mundo sabe isso.
O dono da padaria pagou geral!
— Pô, vocês são fogo. Olha só a calma dos quatro bombeiros que não subiram. Dá pra acreditar que tem velho ferido? Ô gente boateira.
Sentiu que dali não ia sair nada, a não ser, talvez uma briga e resolveu investigar na calçada da frente. Discretamente passou por baixo da faixa amarela e foi conversar com o pessoal da pizzaria.
— Fala amizade, como é que tá o incêndio?
— Não sei, os bombeiros estão aí dentro, procurando.
— Ué, o fogo não foi na cozinha de vocês?
— Claro que não! Aliás, tivemos que desligar tudo e, se continuar assim vamos perder a noite e as gorjetas. Ninguém merece!
Mas o operador do burrinho sem rabo tinha sua própria explicação:
— Não fica triste não, daqui a pouco os bombeiros liberam tudo. Foi só um velhinho preso no elevador. Tirando ele de lá, vocês voltam pro trabalho.
— Pô, cara, precisava vir a escada magirus pra tirar alguém do elevador?
— Vocês estão confundindo tudo! Desta vez foi um guarda municipal que palpitou: Um dona deixou o feijão no fogão, dormiu, queimou e os homens estão lá, controlando a situação.
— Hahahaha, desde quando madame de apart-hotel faz comida no fogão? Aqui não tem isso não, seu guarda!
— E por falar nisso, já que você é uma autoridade, porque não vai lá e pergunta para os bombeiros o que está acontecendo?
— Mandou bem, coroa. Ao invés de ficar multando carro ou perseguindo camelô, vê se faz alguma coisa que preste!
— Olha o respeito!
Mas, curioso como todo o carioca que se preza, logo o guarda municipal conversava animadamente com os bombeiros e, pelos gestos e expressões, boa coisa não devia ser. Ficamos todos quietos, esperando para ouvir as péssimas notícias.
— Pessoal, não foi nada não, foi um trote. Os bombeiros estão terminando a vistoria e a força foi cortada por medida de segurança. Já vão liberar o prédio e a pizzaria. Acho que nem preciso chamar o reforço.
— Trote? Putz, ainda tem quem faça isso? Deviam enforcar o infeliz que faz uma brincadeira dessas. E ainda mais num prédio da terceira idade!
— Você vê, tiraram três carros do quartel para nada. E se tem um incêndio em outro lugar, pra valer?
Pois é, no fim das contas, um trote e muita desinformação.
A cara do Rio mesmo.
Boa essa! Triste a cena, mas uma boa história.
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Grato, Leandro.
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